Infância perdida

Nos dias de hoje, a infância é objeto de desejo de diversas crianças, embora, todas passem por esta fase. Vocês devem estar se perguntando o porquê desta afirmação não é?

Então caros amigos, lhes contarei por meio destas linhas o que presencio em meu trabalho como professora do ensino fundamental de uma escola municipal.

Trabalho nesta escola já faz dois anos e, cada dia me surpreendo com o mundo que espera as nossas crianças. Um mundo em que pais abusam de seus filhos, um mundo em que pais abandonam seus filhos para construir outra família, a marginalidade e o tráfico que batem às portas de suas casas. Enfim, quem estará realmente olhando por elas?

Muita coisa poderia ser diferente se a justiça fizesse leis eficazes e, se o Estatuto da Criança e do Adolescente não tivesse o significado que tem e que é traduzido em três letras ECA.

Cada dia é diferente na escola. Toda vez que ponho os pés na sala de aula, percebo que sou muito mais que professora, sou mãe, sou psicóloga, sou médica desses alunos. E qual a importância de ser professor nos dias de hoje?
            Ensinar já não é tarefa fundamental nas escolas. Hoje, as escolas acolhem seus alunos como filhos e não mais como alunos que buscam somente conhecimentos.

O trabalho é árduo, pois falta o mínimo a essas crianças. Antigamente, quando se fazia um pedido ao Papai Noel, esses se resumiam em sua totalidade a brinquedos e coisas afins. Mas, para estas crianças os pedidos ao bom e velho Papai Noel são materiais escolares, cestas básicas, roupas, etc. O que os pais deveriam oferecer aos filhos se transformou em sonhos de crianças que  têm esperança em um dia viver num mundo menos hipócrita, um mundo em que um pedaço de papel vale mais do que estender a mão ao próximo.

Há poucos dias de comemorar o DIA das crianças, ocorreu um fato que me deixou de coração partido.

Temos uma aluna e, já vinhamos analisando seus comportamentos e atitudes em sala de aula. De uns tempos para cá, ela vem aparecendo com marcas no corpo devido as várias agressões sofridas em casa, apresenta sonolência e agressividade com seus colegas de turma. O irmão dela, que também estuda na escola e que tem somente 9 anos, um ano mais novo, é usuário de drogas e presta serviçinhos “aviãozinho” a troco de uma buchinha de maconha e uma nota de R$ 10,00. Será que isso é o valor de nossas crianças? Espero que não.

E, estudando o contexto familiar em que esta aluna está inserida, não é novidade nenhuma que siga o caminho de milhares de crianças de sua idade.

A sua história me chamou atenção porque consegue ver em seus olhos negros uma tristeza e uma revolta tão grande, que jamais vi alguém expressar os sentimentos com tamanha verdade.

Numa tarde, deparei com ela sentada na cadeira do refeitório, resolvi aproximar e conversar um pouco, mas, para isso, tive que largar o “ser professora” e me transformar em um “ser humano” capaz de ouvir e entender o outro sem buscar corrigir algo.

Após ter feito isso, ela pegou a minha mão e apertou tão forte que parecia não largar e, junto com essa força vieram lágrimas que pareciam cair aliviadas, assim como a chuva que cai no solo do sertão em meio a seca que castiga. Embora seja uma criança, essa traz no rosto sem cor e sem vida os sofrimentos e angústias de alguém que um dia sonha em ser uma “professora”.

Contive-me para não cair em choro e, neste momento me veio lembranças da minha infância, dos meus amigos, da minha família e do que o ambiente “escola” representava para mim.

Nestes dezessete anos muita coisa mudou e muito que vivi e tenho orgulho de lembrar já não faz mais sentido e nem existe mais.

E em meio a estas lembranças, essa criança virou e me olhou nos olhos dizendo:

-Tia, eu queria ser sua filha. Você queria ser minha mãe?

Não consegui me conter e, deixei que uma lágrima percorresse pelo meu rosto revelendo neste gesto sútil a quão emocionada e triste eu estava com àquela pergunta, que apesar de parecer inocente diz mais do que meras palavras soltas no ar.

Para esta criança uma possível resposta lhe confortaria o coração, mas infelizmente nem sempre devemos agir a pedido do nosso coração. Às vezes, ser racional é o melhor a se fazer.

Gostaria muito que a infância fosse vivida com intensidade por essas crianças e, que a responsabilidade e obrigação em manter a família fosse somente dever dos pais. Assim, as crianças terão tempo para serem de fato crianças. E, a escola terá de volta o seu importante papel que é a formação de cidadãos críticos.

Esse é o meu pedido para o Papai Noel…

 

Abraços,

Dany

Sobre Danielle Soares

Quero ficar no teu corpo Feito tatuagem Que é prá te dar coragem Prá seguir viagem Quando a noite vem...
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3 respostas para Infância perdida

  1. Djeane disse:

    SIMPLESMENTE LINDO, Amiga!!!

    Parabéns! Gostei muito, arrepiei…

    Pode contar sempre que serei sua leitora número um.

    Eu te amo!!!
    Bjusss

  2. Fred disse:

    É foda prima… E dá-lhe pedido!

  3. Fabiana disse:

    É amiga!A realidade essa q nos comparamos todos os dias em um ambiente q esperamos por encontrar sementinhas de esperanças para acrescentarmos o nosso papel de mestres;faz-nos cada vez mais indignadas,tristes e pensativas com o q realmente fazer…..
    Com certeza,passar por isso sem sentir inúteis a gente ñ consegue!
    Tenho certeza de que o que estou falando vc também sente.
    Estamos ali com um propósito de ensino,de trocas por saber…
    Ensinamentos esses a ajudar às crianças em seu futuro.
    Mas que futuro esse espera esses pequenos???????????
    É amiga… só quem sente isso na própria pele para poder nos entender não é mesmo?
    E aí a gente sempre se pergunta sem achar uma resposta….
    O que fazer ??????????
    o que?????????
    O que??????????

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